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A conformidade Com a Vontade de Deus (III)

"Que procuras tu, ó homem, quando procuras bens? Procura o único bem, no qual se encerram todos os bens." (Santo Agostinho). Terceira parte da série de artigos sobre o Tratado da Conformidade Com a Vontade de Deus.
Tempo Estimado de Leitura: 7 minutos

A conformidade Com a Vontade de Deus (III)

"Que procuras tu, ó homem, quando procuras bens? Procura o único bem, no qual se encerram todos os bens." (Santo Agostinho). Terceira parte da série de artigos sobre o Tratado da Conformidade Com a Vontade de Deus.
Tempo Estimado de Leitura: 7 minutos

[…] Affonso, o grande, rei de Aragão, príncipe o mais sábio, perguntando-se-lhe quem pensava ele que era o homem mais feliz, respondeu: aquele que em tudo se conforma com a divina vontade e que recebe os bens e os males como se viessem das mãos de Deus. Aqueles que amam a Deus, todas as coisas concorrem para o bem. (Rm 8, 28). Aqueles que amam a Deus vivem sempre satisfeitos, porque todo o seu prazer é cumprir a divina vontade, mesmo nas coisas que lhes são desagradáveis; tanto que as inquietações se mudam em deleites, pelo pensamento de que, aceitando-as voluntariamente, agradam o seu amado Senhor. Tudo quanto acontecer ao homem justo não o entristecerá. (Pr 12, 21). E com efeito, que maior felicidade pode o homem experimentar do que os cumprimento de seus desejos? Então, quando se deseja o que Deus quer, tem cada um tudo quanto deseja, pois que (exceto o pecado) tudo quanto suceder no mundo é pela vontade de Deus.

Conta-se na vida dos padres que certo lavrador colhia sempre maior quantidade de frutos do que os seus vizinhos, e perguntando-se-lhe o motivo, respondeu: – Que não se admirassem porque as estações andavam sempre a seu arbítrio. – Como assim? Disseram os outros. – Porque, respondeu ele, nunca desejo outro tempo senão aquele que Deus manda, e como eu quero o que Deus quer, ele também me faz a vontade, dando-me uma boa colheita. – As almas resignadas, diz Salviano, quando se sentem humilhadas, confessam sua humilhação; quando são pobres, sofrem voluntariamente sua pobreza; em uma palavra, resignam-se a tudo quanto lhes acontece, e por isso são sempre felizes durante a vida. Se chega o calor, o frio ou a chuva, aquele que se conforma a vontade do Senhor diz: Eu desejo que haja calor, e frio, ou chuva, porque essa é a vontade de Deus. Se a pobreza, a perseguição ou doença o afligem, ou mesmo a morte, ele dirá: eu desejo ser pobre, perseguido ou doente, porque esta é a vontade de Deus. É esta a gloriosa liberdade que os filhos de Deus gozam, a qual vale mais que todos os reinos e principados deste mundo: Esta é a sólida paz que os santos desfrutam, que excede toda a compreensão. (Ef 3, 19). E todos os prazeres sensuais, festas, banquetes, honras e mundanas gratificações são vaidades e caducidade, e, enquanto que fascinam e entretém por alguns momentos, afligem o espírito, onde só pode haver a verdadeira felicidade. Aqui exclama Salomão, depois de ter esgotado o gozo das delícias do mundo: Mas isto é também vaidade e vexação de espírito. (Ecl 4, 16). O louco, diz o Espírito Santo, muda como a lua, mas o homem justo continua em seu juízo, assim como o sol. (Eclo 27, 12). O insensato, isto é, o pecador, muda como a lua. Hoje está no crescente, amanhã no minguante, hoje está alegre, amanhã triste, hoje meigo, amanhã furioso como um tigre; e por quê? Porque a sua felicidade depende da prosperidade e adversidade, que ele pode encontrar, e então muda conforme as circunstâncias. Mas o homem justo é como o sol, sempre igual na sua serenidade, sejam os sucessos quais forem; porque a sua felicidade está na conformidade com a vontade divina e por esta conformidade goza uma inalterável paz. Paz  na terra aos homens de boa vontade, disse o Anjo aos pastores. (Lc 2, 14). E quem são estes homens de boa vontade? São aqueles que estão sempre unidos à vontade divina, a qual é sempre soberanamente boa e perfeita. Tal é a boa, aceita e perfeita vontade de Deus. (Rm 12, 2). Porque Deus não pode desejar coisa alguma, que não seja a melhor e mais perfeita.

Os santos, por sua uniformidade divina, gozavam de um céu sobre a terra. Os antigos padres, diz Santa Dorothea, conservavam em si uma paz constante, porque recebiam tudo como vindo da mão de Deus. Santa Maria Magdalena de Pazzi, ao ouvir somente as palavras “vontade de Deus”, ficou tão consolada que extasiou-se de amor. A adversidade, sem dúvida, causa pena e dor em nossos sentidos, mas isso só tem lugar na parte inferior, porque o espírito, que é a parte superior, deve ser tranquilidade e paz, estando a vontade unida a Deus. O vosso gozo, disse o Senhor aos seus Apóstolos, ninguém vo-lo tirará, e será completo. (Jo 16, 22-24). Aquele que está sempre em uniformidade com a vontade divina goza de uma paz inteira e perpétua: inteira, porque ele tem tudo quanto deseja, como acima dissemos; perpétua, porque ninguém o pode privar de tanto prazer, assim como ninguém pode obstar ao que Deus quer. O padre João Thaulero, segundo o padre Sangiore (Erar. Tom. III) e o padre Nieremberg (Vita. Div.), conta de si mesmo que, tendo por muitas vezes pedido a Deus que lhe ensinasse o caminho da vida espiritual, ouviu um dia uma voz que lhe dizia que fosse a certa igreja e ali acharia a pessoa que procurava. Ele se dirigiu à dita igreja e à porta dela encontrou um miserável mendigo, descalço e roto, a quem saudou dizendo: – Bom dia, irmão! O pobre lhe respondeu: – Não me lembro de ter passado um só dia mau, senhor! O padre replicou: – Deus vos dê uma vida feliz; ao que ele lhe tornou: – Eu nunca fui infeliz, acrescentando, Padre, não foi o acaso que me fez responder-vos que nunca tive um dia mal; porque se tenho fome, louvo a  Deus; quando cai neve, ou chove, eu o bendigo; se alguém me despreza, me despede ou me aflige, ou se encontro qualquer outra tribulação, dou sempre graças a Deus. Disse-vos que nunca fui infeliz, falei a verdade, pois que tenho me acostumado a conformar-me com a vontade de Deus, sem reserva; assim, tudo que me acontece, de bem ou de mal, eu recebo de suas mãos com alegria, como se fosse a minha melhor sorte, e isto me torna feliz.E se Deus quisesse, disse Thaulero, a vossa condenação, que havíeis de dizer? – Se tal fosse a vontade de Deus, respondeu o pobre, eu, com humildade e amor, me abraçaria com Nosso Senhor, e me lançaria de tal modo com Ele, que, quando me quisesse precipitar no inferno, o obrigaria a ir ali comigo, e me acharia mais feliz com Ele no abismo do que gozando das delícias do Céu sem Ele. – Onde achastes a Ele? Perguntou o padre. – Achei-O onde deixei as criaturas. – Quem sois vós? Eu sou um rei. – Onde é o vosso reino? – Na minha alma, onde conservo a ordem: as minhas paixões obedecem à razão, e a minha razão obedece a Deus. Por fim, Thaulero lhe perguntou o que tinha feito para se adiantar na perfeição. – Guardei silêncio, respondeu o mendigo. – Ser silencioso com os homens em ordem a falar com Deus; e na união que tenho conservado com a vontade do meu Senhor, tenho achado e acho toda a minha paz. Tal era, em uma palavra, este pobre homem, pela sua uniformidade com a vontade divina: ele, na sua pobreza, era seguramente mais rico de todos os monarcas da terra, e mais feliz em seus padecimentos que todos os mundanos no gozo de todos os prazeres.

Quão grande é a estupidez daquele que resiste à vontade divina! Forçoso é sofrer tribulações, porque ninguém se pode subtrair ao cumprimento dos divinos decretos. Quem resiste à Sua vontade? (Rm 9,19). E sofrê-las-ão sem fruto, e também trarão sobre si os maiores castigos na vida futura, e maior ansiedade na presente. Quem jamais lhe resistiu e obteve paz? (Jó 4, 4). Se o homem enfermo se queixa de suas dores e enfermidades, se o que é pobre lamenta a sua sorte perante Deus, e se enfurece e blasfema, que lhes resulta senão o aumento de suas aflições? Que procuras tu, ó homem, diz Santo Agostinho, quando procuras bens? Procura o único bem, no qual se encerram todos os bens. Que procuras tu exceto Deus? Procura-o, e acha-o; una-te e liga-te a Ele, à sua vontade, viverás feliz nesta e na outra vida.


Nota:

1.    LIGÓRIO, S. Afonso Maria de. Tratado da Conformidade com a vontade de Deus. Niterói – RJ: Escola Salesiana, 1913, p. 14-20.

Maria Sempre!

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