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O Matrimônio e a Perfeição

A vida matrimonial tende a ser um caminho mais árduo para o alcance da santidade, mas de modo algum está privada dos inúmeros influxos da Graça para que o casal, vivendo sempre generosamente, atinja a perfeição cristã.
Tempo Estimado de Leitura: 5 minutos

O Matrimônio e a Perfeição

A vida matrimonial tende a ser um caminho mais árduo para o alcance da santidade, mas de modo algum está privada dos inúmeros influxos da Graça para que o casal, vivendo sempre generosamente, atinja a perfeição cristã.
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O MATRIMÔNIO é ordenado à caridade, mas conduzirá ele à perfeição da caridade? Ao ouvir os Santos Padres, em seus comentários da parábola do semeador, aplicar o cento por um à virgindade, o sessenta por um à viuvez e o trinta por um ao matrimônio, não se pode duvidar disso? Não seria preciso, com Pascal, ver no matrimônio “a condição mais baixa”?

Digamos, primeiramente, que há por vezes imperfeição nessas discussões acerca da perfeição . . . e que, em lugar de perder tempo com isso, seria melhor procurar cada um tornar-se perfeito segundo a sua própria vocação, antes que dissertar sobre a perfeição ou imperfeição dos outros! “O matrimônio, diz com justiça São Francisco de Sales, é um grande sacramento, do qual as virgens cristãs devem falar com humildade e respeito”. Todavia, proclamemos claramente com a Igreja que ele é inferior à virgindade, o que, sem embargo, não permite julgar casos particulares, porque o melhor para cada um é fazer a vontade de Deus e seguir a sua vocação: a perfeição não está em outra parte.

O que se quer dizer com isso? Que, por sua natureza, a virgindade, o celibato guardado por amor de Deus, é um caminho mais direto para a perfeição da caridade, o que não impede que certas almas, trilhando um caminho mais difícil, mas mais generosas e impelidas por uma graça mais sublime, andem mais depressa para esse objetivo.

A caridade é tanto mais perfeita quanto mais intensa e mais atual ela for; a sua perfeição consiste em unificar todas as energias da alma num ato total e ininterrupto de amor. Essa perfeição é privilégio do céu; neste mundo a nossa tarefa é marcharmos para ela, afastando os obstáculos, rejeitando as paixões e ocupações que dividem o coração, absorvem o espírito e diminuem o ardor e a totalidade do amor. Essa libertação é a razão de ser dos conselhos evangélicos. Não se pede ao discípulo de Cristo que renuncie a um mal para atingir o bem, mas propõe-se-lhe abandonar um bem por um bem melhor. Por isso não são ordens, mas conselhos: nenhuma página do Evangelho é mais clara a esse respeito do que a vocação do jovem rico: “Se queres entrar na vida, observa os mandamentos . . . Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, dá-o aos pobres, e terás um tesouro nos céus; depois vem e segue-me” (Mat. 19, 17).

O mesmo se diga do conselho de renunciar ao matrimônio “por amor do reino dos céus”. Quem puder compreender, compreenda! (Mat. 19, 12).

Isso não quer dizer que a mais alta perfeição não seja acessível aos cristãos casados. Tudo o que dissemos precedentemente protestaria contra semelhante interpretação; é inútil repeti-lo. Um episódio tirado da bem-aventurada Taigi vai por em luz o ridículo que haveria em querer limitar assim a ação de Deus. A serva de Deus praticava as mais altas virtudes, dedicava-se à oração, e o Senhor recompensava-lhe a generosidade com favores insignes, tais como só se veem na vida dos maiores místicos. O seu confessor, ao ter conhecimento dessas maravilhas, opôs-lhe dificuldades, julgando essas graças incompatíveis com o estado matrimonial, o que lhe mereceu uma severa repreensão por parte de Nosso Senhor.

Não deixa de ser verdade, porém, que a busca da perfeição na vida conjugal se torne mais difícil, por causa do que São Paulo chama de “tribulações da carne”. Alegrias do coração, prazer dos sentidos, cuidados de família fazem parte integrante desse estado e o preço desses bens torna mais difícil à nossa natureza ferida ultrapassá-los ou só empregá-los segundo a divina vontade. A nossa natureza ferida, dissemos, porque, no dizer dos teólogos, não havia esses entraves no estado de justiça original: a alma, completamente senhora de suas paixões e tendências inferiores, nunca era perturbada por elas e só as empregava segundo os desejos de Deus.

Mas, a despeito de todas as lutas e de todas as dificuldades, a lei essencial da vida cristã, no matrimônio como na virgindade, é a tendência para a perfeição. Para resumir em três palavras essas reflexões, a busca do amor perfeito no matrimônio é possível, difícil e obrigatória.

Repitamos: não é possível enquadrar nesses princípios gerais todos os casos individuais, porque pode acontecer que a Providência reserve para determinada alma provações particulares, graças especiais que lhe serão mais santificantes que em qualquer outro estado. Citemos apenas estes dois exemplos: a viuvez, quebrando todos os laços mortais e tornando o coração verdadeiramente desolado, pode abri-lo às sublimidades do amor celeste; ou a ordenação sacerdotal de um filho, que pode revelar tais exigências de santidade, tais graças e tais alegrias que toda a sua vida será sobrelevada. São apenas exemplos, mas a Providência de todos os dias não é menos admirável com aqueles que nela confiam. O que importa não é o caminho, dizia o bispo de Genebra, mas a rapidez com que se anda. O que dá valor a uma vida é a caridade que a anima: veem-se não raro pessoas casadas, sobrecarregadas dos cuidados da vida cotidiana, mais unidas a Deus, mais disponíveis ao seu Espírito e mais submissas à sua vontade do que almas consagradas às obras de perfeição no retiro dos claustros.

Cada um de nós tem o seu lugar marcado no Corpo místico, a sua vocação; o que é preciso é descobri-la com aplicação e segui-la com fidelidade. “Cada qual permaneça na sua vocação” (1 Cor. 1, 25). Com esse conselho o apóstolo São Paulo termina o paralelo que estabelece entre o matrimônio e a virgindade. O estado é secundário, o que importa é o amor e a fidelidade.

Será preciso acrescentar que em nossos dias essas preocupações de perfeição tomam um caráter de urgência? O mundo moderno, penetrado de ideias falsas acerca da vida conjugal, precisa de testemunhos; precisa de fatos que possa tocar com as mãos e controlar com os sentidos; reclama almas que saibam porque vivem, mas que vivam nas alturas. A família está em perigo: só lares, verdadeiros lares “carnais”, como diria Péguy, a salvarão; lares que, como faróis, mostrarão àqueles que se perdem na triste noite dos sentidos, a alegria, a beleza e a verdade de um matrimônio para o qual Cristo foi convidado.

É uma grande consolação ver como se multiplicam cada dia mais os artífices dessa obra. Tornam-se sempre mais numerosas as almas ardentes que vivem o matrimônio segundo o ideal traçado por Cristo.

Post Scriptum: imagens cedidas pelo fotógrafo Renato Diniz, membro da SSVM.


Referências:

1.   PERRIN, J. M. Espiritualidade do Lar. Tradução de Valeriano de Oliveira. São Paulo – SP: Livraria Editora Flamboyant, 1964, p. 111 – 114.

Maria Sempre!

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