Esta doutrina [da devoção e entronização do Sagrado Coração de Jesus] exposta assim leva-nos naturalmente a falar do fervor Eucarístico que vai intensificar e selar a divina amizade entre o Rei Divino e Seus amigos de Betânia . . . E pela Eucaristia poderemos, com segurança, superar a intimidade de Lázaro e suas irmãs pelo Senhor Jesus. Eles O possuíam, de vez em quando, por algumas horas, mas não assistiram, na Quinta-Feira Santa, ao prodígio da última Ceia. E nós sim.
Por isso, nossos lares deveriam converter-se em verdadeiros sacrários por obra e graça de intenso espírito eucarístico.
A Entronização prega uma cruzada que arrasta a Jesus, irresistivelmente, para o centro do lar cristão. E que traz, também irresistivelmente, pais e filhos ao Tabernáculo de Jesus Sacramentado. Isto porque a Eucaristia é Fonte inesgotável de vida cristã.
Em Betânia, portanto, devem ser lei de amor a Missa e a Comunhão diárias, “Pão de cada dia!”
Aqui, sublinho um princípio doutrinário de primeira ordem, mal compreendido por um grande número de católicos, mesmo de gente piedosa, por falta de conhecimento da religião.
Afirmo, assim, categoricamente, que em nossa devoção eucarística devemos sempre dar o primeiro lugar ao Santo Sacrifício da Missa, e não inverter jamais esta ordem teológica como infelizmente ocorre a miúdo. Quantos cristãos reduzem sua devoção eucarística à Sagrada Comunhão! Vão à Missa não para honrar e adorar à Trindade Augusta “por Cristo, com Cristo e em Cristo”, mas só para comungar! Para estes a Santa Missa é uma chave litúrgica que abre o Tabernáculo e lhes dá a Santa Comunhão, e nada mais.
Ignoram que o Santo Sacrifício é, antes de tudo, e sobretudo, uma homenagem oficial de adoração, de louvor e glória, oferecida por Cristo e pela Igreja à Santíssima Trindade . . . E que a Missa é o único hino digno de Deus, o único a alcançar o trono do Altíssimo. E ainda, que é o Mediador, a Vítima do Calvário quem canta este hino, porque a Santa Missa é a prolongação, mil vezes sublime, do Calvário.
Se os católicos avaliassem este dom de Deus!
Preguemos com insistência e clareza que Sacrifício e Sacramento devem ficar indissoluvelmente unidos, mas que a Fonte é a Santa Missa. E que as torrentes de graça que são a Sagrada Comunhão, a Reserva do Tabernáculo e o Ostensório, têm como manancial o Sacrifício, o qual, faltando, não existiria o Sacramento . . . Ninguém tem maior apreço pelo Sacramento do que aquele que estima o Santo Sacrifício.
Disse com razão, portanto, um grande Teólogo : “Quem não preza e aprecia a Fonte Eucarística que é o Santo Sacrifício, ainda comungando com frequência, não será nunca uma alma profundamente eucarística . . . Tal piedade sem doutrina e que altera a ordem dos valores, facilmente se tornará em rotina sem grande fruto espiritual”.
Preguemos sem trégua a Santa Eucaristia ao pregar o Reinado Social do Sagrado Coração. Mantenhamos porém os valores doutrinários. Seja intensamente estimado e apreciado o Santo Sacrifício para que o Santíssimo Sacramento, sendo assim muito amado, seja também muito fecundo nos lares do Sagrado Coração.
Referência bibliográfica:
CRAWLEY-BOEVEY, Padre Mateo. Jesus, Rei do Amor. Rio de Janeiro – RJ: Vozes, 1956, p. 80-82.