A Lei da sub-rogação nos santos místicos

Os místicos e a missão de completarem em seus corpos o que falta à Paixão de Cristo.
Tempo Estimado de Leitura: 5 minutos

A Lei da sub-rogação nos santos místicos

Os místicos e a missão de completarem em seus corpos o que falta à Paixão de Cristo.
Tempo Estimado de Leitura: 5 minutos

A missão de uns santos foi toda ruidosa e expansiva, pregando às multidões, correndo o mundo, convertendo idólatras, reformando os costumes, regenerando as sociedades, como São Vicente Ferrer, chamado o Anjo do Apocalipse, Santo Antônio de Lisboa, ou São Leonardo de Porto Maurício; a missão de outros foi toda passiva, a missão do sofrimento, a de serem vítimas expiatórias e propiciatórias dos pecados do seu tempo.

O mundo não sabe compreender, nem conhece sequer os desígnios de Deus sobre ele.

Em verdade, é preciso ser bem um santo, quase um São Francisco de Assis, um São João da Cruz, ou uma Santa Teresa d’Ávila, para compreender essa lei sempre em vigor da substituição, que a Justiça imutável de Deus exige para o equilíbrio do mundo. Quando Moisés, no alto da montanha, afrouxa os braços, que sustenta no ar em penitência, logo o castigo de Javé cai sobre os acampamentos do povo hebreu. (Êx 17, 11)       

E o que mais nos espanta é vermos, ainda, que Deus vai recrutar essas almas entre os leigos, fazendo-os, a eles, os herdeiros dessa graça, que jorrou em abundância sobre a Igreja, na Idade Média.

Uma grande compensadora foi Santa Ludovina, natural de Schiedam, na Holanda. Era ela uma donzela de extraordinária beleza, que, aos quinze anos, após uma terrível doença, que a flagelara, se tornou feia. Algum tempo depois, já restabelecida, quando se divertia com algumas companheiras, patinando no inverno sobre os canais gelados da cidade, dá uma queda e quebra uma costela. A partir desse acidente, fica estendida num leito até a morte; os males mais terríveis precipitaram-se, então, sobre ela. O seu corpo cobriu-se de chagas; a gangrena corria nelas e das suas carnes em putrefação nasciam bichos! Depois, veio-lhe o mal temido da Idade Média, o fogo sagrado, que a devora, apoderando-se-lhe do braço direito e consumindo-lhe as carnes até aos ossos; os tendões dos seus músculos torceram-se e acabaram por estalar, exceto um que segurava o braço, impedindo-o de se destacar do tronco; desde então, ela não pôde mais voltar-se sobre esse lado e só lhe ficou livre o braço esquerdo, para erguer a cabeça, que era também, por sua vez, pasto da podridão!

Santa Ludovina, caída no gelo, aos 15 anos

Assaltavam-na nevralgias horrorosas, que lhe trespassavam as fontes como pregos, como pancadas de martelo; a fronte fendeu-se-lhe desde a raiz dos cabelos até ao nariz; o queixo deslocou-se-lhe por baixo do lábio inferior e a boca inchou-se de um modo horrível; apagou-se-lhe a luz do olho direito e o outro ficou tão sensível, que não podia suportar o menor clarão de luz, sem verter sangue; sofria dores violentíssimas, que lhe duravam semanas e que quase a deixavam louca; por vezes o sangue jorrava da sua boca, nariz e ouvidos em tanta quantidade, que chegava a escorrer do leito!

Dir-se-ia que todas as doenças da terra se passavam nela, que ela havia percorrido todo o ciclo das dores e das enfermidades humanas! Mas não era tudo ainda.

Pouco tempo depois, o seu peito, até então indene, apareceu afetado de equimoses lívidas, de furúnculos e pústulas acobreadas; a doença da bexiga, de que sofrera na infância e que havia desaparecido, sobreveio, ainda, e ela evacuou cálculos do tamanho de ovos pequenos; cariaram-se-lhe seguidamente os pulmões e o fígado; depois um cancro cavou um buraco profundo, que acabou de corroer as carnes e, para excesso de todos esses males medonhos, a peste que, então, abatera sobre a Holanda, escolheu-a como a primeira a ser afetada; dois bubões irromperam, um na virilha e outro sobre o coração. – “Dois só, bem está”, exclamou ela então, “mas se for a vontade de Nosso Senhor, três seriam melhor, em honra da Santíssima Trindade” – e, imediatamente, um terceiro lhe rebentou no rosto. Sobreveio depois a hidropsia, e Ludovina inchou medonhamente.

Por espaço de trinta e cinco anos, viveu assim num quarto sem luz, não tomando alimento algum sólido, orando e chorando sempre! Tão tolhida estava de frio no inverno, que pela manhã as suas lágrimas formavam dois regos de água gelada ao longo das suas faces! E os seus tormentos corporais pareciam crescer todos os dias.

Às vezes, os rangidos dos seus dentes tornavam-se tão ferozes, que a sua cabeça tremia; as febres minavam-na com as suas alternâncias de calores violentos e de grandes frios e, quando esses acessos atingiam os graus extremos, ela expectorava um líquido avermelhado e caía num enfraquecimento tal, que lhe era impossível proferir uma só palavra, ou ouvir falar as pessoas que a rodeavam!

Quando lhe perguntavam se ela desejava ser curada, respondia: “não, não, eu não desejo ser despojada das minhas penas e das minhas dores”!

As úlceras de Ludovina eram piras de perfumes; Jesus fazia que emanassem delas as efluências tênues, os odores raros e esquisitos das rosas e das especiarias; Ele vinha vê-la muitas vezes com os seus Anjos e a sua Mãe Santíssima, e ela comungava pelas suas próprias mãos; assistiu aos seus últimos momentos e, depois da sua morte, restituiu ao seu corpo virginal a sua primitiva beleza. Chegaram os enfermos e curaram-se muitos só em se aproximarem dela.

Ludovina morreu no ano do Senhor de 1433. Expiou pelas Almas do Purgatório, pelos pecadores e pelos maus Padres. [1]

Aparição a Santa Ludovina do Menino Jesus na Sagrada Eucaristia

Notas:

1.   A mais completa das biografias dessa santa é a do eminente literato francês Huysmans.


Referência:

1.   ALVES, Pe. Gonçalo. Tratado sobre Teologia Mística. Porto, Portugal: Editora Livraria Católica Portuense, 1926.

Nota da Edição do Site: A opinião dos articulistas não reflete necessariamente a posição da Sociedade da Santíssima Virgem Maria.

Maria Sempre!

Compartilhe e ajude-nos a evangelizar:
Facebook
Twitter
WhatsApp
Facebook
Twitter
WhatsApp

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

3 × três =