A Epifania
Ó pequenino Jesus, em Vós reconheço o Rei dos Céus e da Terra; fazei que eu Vos possa adorar com a fé e o amor
dos Magos.
I – Hoje o mundo reconheceu aquele que a Virgem deu à luz … Hoje refulge a festa da Sua manifestação. (Breviário Romano). Hoje Jesus manifesta-Se ao mundo como Deus.
O Intróito da Missa introduz-nos diretamente neste espírito, apresentando-nos Jesus na majestade real da Sua divindade: Eis que veio o soberano Senhor: Ele tem nas Suas mãos o cetro, o poder e o império. A Epístola (Is 60, 1-6) prorrompe num hino de glória anunciando a vocação dos gentios à fé; também eles reconhecerão e adorarão em Jesus o seu Deus. Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque veio a tua luz. E as nações caminharão à tua luz e os reis ao resplendor da tua aurora… Todos virão de Sabá trazendo ouro e incenso e publicando os louvores do Senhor. Já não se vê, à volta do presépio, a humilde presença dos pastores, mas o faustoso cortejo dos Magos que vieram do Oriente como representantes dos povos pagãos e de todos os reis da Terra, para prestarem homenagem ao Deus Menino.
Epifania (ou Teofania) quer dizer manifestação de Deus; e esta manifestação de Deus vemo-la realizada em Jesus, que hoje Se manifesta ao mundo como seu Deus e Senhor. Já um primeiro prodígio, o da nova estrela aparecida no Oriente, revelara a Sua divindade; mas à recordação desse milagre, que ocupa o primeiro lugar na liturgia deste dia, a Igreja junta mais dois: a água convertida em vinho nas bodas de Caná; e o Batismo de Jesus no rio Jordão, enquanto uma voz, vinda do Céu, atesta: Este é o meu Filho muito amado. Três milagres ilustraram o santo dia que hoje celebramos, canta a Antífona do Magnificat: três milagres, que devem dispor-nos para reconhecer e adorar com fé viva no Menino Jesus o nosso Deus, o nosso Rei.
II – Vimos a Sua estrela no Oriente e viemos com presentes adorar o Senhor. Nesses versículos da Missa de hoje está sintetizada a conduta dos Magos. Ver a estrela e pôr-se a caminho foi obra de um momento. Não duvidaram porque a sua fé era firme, segura e inteira. Não hesitaram perante a fadiga da longa viagem, porque o seu coração era generoso. Não deixaram para mais tarde, porque a sua alma estava pronta.
No céu das nossas almas, também aparece frequentemente uma estrela: uma inspiração íntima e clara de Deus, que nos convida a um ato de generosidade, de desprendimento, a uma vida de maior intimidade com Ele. Devemos saber sempre seguir a nossa estrela com a fé, com a generosidade e com a prontidão dos Magos. Seguida assim, conduzir-nos-á sem dúvida ao encontro do Senhor, far-nos-á achar Aquele que procuramos.
Os Magos perseveraram na sua busca mesmo quando a estrela desapareceu aos seus olhos; da mesma forma devemos nós perseverar no bem mesmo atravessando trevas interiores: é a prova da fé, que somente se pode superar com um intenso exercício de fé pura e nua. Sei que Deus assim o quer, sei que Deus me chama e isto basta: Scio cui credidi et certus sum (2 Tim 1, 12); sei quem é aquele em quem acreditei e aconteça o que acontecer, nunca poderei duvidar d’Ele.
Com essas disposições, vamos com os Magos ao presépio. E assim como aqueles ofereceram, dos seus tesouros, místicos dons ao Senhor, saibamos nós também tirar dos nossos corações dons dignos de Deus. (Breviário Romano)
Colóquio – Ó Jesus, eu Vos adoro porque sois o Senhor meu Deus. Sois um Deus grande e Rei de todos os reis. Nas Vossas mãos estão todos os confins da Terra e Vós contemplais os cimos dos montes. Vosso é o mar e Vós sois Aquele que o fez e sob as Vossas mãos se formou a terra… E nós somos o Vosso povo e as ovelhas da Vossa mão. (cfr. Sal. 94). Sim, ó Jesus, eu sou uma ovelha Vossa, uma criatura Vossa e alegro-me por reconhecer o meu nada diante de Vós. Mas mais contente fico, amabilíssimo Menino, ao reconhecer e adorar em Vós o meu Deus e o meu Criador. Como eu quereria que todos os povos Vos reconhecessem tal qual sois e que todos se prostrassem diante de Vós, adorando-Vos como seu Deus e Senhor! Ó Senhor, Vós o podeis, mostrai a todos a Vossa divindade e como um dia conduzistes até Vós, os Magos do Oriente, congregai agora também, ao redor do Vosso presépio, todos os povos e todas as nações. Mas Vós dais-me a entender que quereis a minha pobre colaboração para a vinda do Vosso reino; Vós quereis que eu reze, sofra e trabalhe pela conversão dos que estão perto e dos que estão longe. Quereis que também eu leve ao Vosso presépio os presentes dos Magos: o incenso da oração, a mirra da mortificação e do sofrimento generosamente abraçado por Vosso amor, o ouro da caridade; caridade que faça o meu coração todo e exclusivamente Vosso, caridade que me obrigue a trabalhar, a dar-me pela conversão dos pecadores e dos infiéis e pela maior santificação dos Vossos eleitos. Ó meu dulcíssimo Rei, criai em mim um coração de apóstolo. Como eu quereria trazer hoje aos Vossos pés os louvores e as adorações sinceras de todos os homens da Terra! Mas, ó Jesus, ao pedir-Vos que Vos manifesteis ao mundo, peço-Vos também que Vos manifesteis cada vez mais à minha pobre alma. Que brilhe também para mim hoje a Vossa estrela e me indique o caminho que a Vós conduz; que o dia de hoje seja igualmente para mim uma verdadeira Epifania, uma nova manifestação ao meu entendimento e ao meu coração. Quem mais Vos conhece mais Vos ama, ó Senhor; e eu só desejo conhecer-Vos para Vos amar e me dar a Vós com uma generosidade cada vez maior.
Nota:
Créditos da imagem de capa utilizada neste artigo, distribuída sob a licença creative commons:
Sailko, Maestro dell’Epifania di Fiesole, adorazione del bambino, 1490 ca. 06 bambino, Recorte (crop) por Paulo E.
Referências:
1. MADALENA, Pe. Gabriel de Santa Maria. Intimidade Divina. 2ª edição, traduzida da 12ª edição italiana. Porto, Portugal: Edições Carmelitanas, [196-?], p. 169-172.