Suplico-Vos, Senhor, por intercessão de Maria Santíssima, que Vos digneis purificar a minha alma.
I – A festa deste dia, que encerra o ciclo natalício, é ao mesmo tempo festa de Jesus e festa de Maria: de Jesus porque, quarenta dias depois do nascimento, é apresentado no templo por Sua Mãe, segundo a prescrição da lei; de Maria porque se sujeita ao rito da purificação. A liturgia celebra, antes de tudo, a primeira entrada de Jesus Menino no templo: «Eis que o Senhor, o Dominador, vem ao seu santo templo; alegra-te e regozija-te, saindo ao encontro do teu Deus» (Breviário Romano). Saiamos também nós ao Seu encontro, fazendo nossos os sentimentos do velho Simeão, que «foi ao templo [conduzido] pelo Espírito [de Deus]» e que, cheio de gozo, recebeu em seus braços o Menino Jesus. Para solenizar este encontro, hoje a Igreja benze as velas e entrega-no-las; em procissão, com as velas acesas, entremos no templo. A vela acesa simboliza a vida cristã, a fé e a graça que devem resplandecer na nossa alma. Mas é também símbolo de Cristo, luz do mundo, «luz para iluminar as nações», como O saudou Simeão. A vela acesa recorda-nos que devemos trazer sempre Cristo conosco, Ele que é fonte da nossa vida, autor da fé e da graça. E o próprio Jesus, com a Sua graça, nos dispõe para irmos ao Seu encontro com mais fé e mais amor. Possa o nosso encontro com Ele ser hoje particularmente íntimo e santificante! Jesus é apresentado no templo para ser oferecido ao Pai. Para Ele, o resgate não tem o mesmo valor que tinha para os primogênitos dos hebreus, pois Ele é a vítima que deverá ser imolada pela salvação do mundo. A Sua apresentação no templo é, por assim dizer, o ofertório da Sua vida; o sacrifício consumar-se-á mais tarde no Calvário. Ofereçamo-nos juntamente com Jesus.
II – Jesus é apresentado no templo por Sua Mãe; hoje, portanto, contemplamos Maria no seu papel de Corredentora. A Virgem não ignorava que Jesus era o Salvador do mundo e, através do véu das profecias, compreendera claramente que a sua missão havia de realizar-se num mistério de dor no qual, como Mãe, Ela teria de participar; Simeão, com a sua profecia: «Uma espada trespassará a tua alma» (Lc 2, 35), confirmou-lho. Maria, então, no segredo do seu coração, devia ter repetido o seu fiat: «Eis aqui a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38). Oferecendo o Filho, oferecia-se a si mesma, sempre intimamente unida à Sua sorte. Mas antes de entrar no templo para apresentar Jesus, Maria quer submeter-se à lei da purificação legal. Embora esteja plenamente consciente da sua virgindade, coloca-se ao lado das outras mães e, confundida no meio delas, espera humildemente a sua vez, levando consigo «Um par de rolas», que era a oferta dos pobres. Vemos Jesus e Maria submeterem-se a leis a que não eram obrigados: Jesus não precisava de ser resgatado, nem Maria precisava de ser purificada. Que lição de humildade e de respeito para com a lei de Deus! Há leis a que somos obrigados e de cujo cumprimento o nosso amor-próprio se exime sob falsos pretextos: são dispensas abusivas, reclamadas em nome de direitos que na realidade não existem. Humilhemo-nos e reconheçamos que se Maria não tinha necessidade nenhuma de se purificar, nós temos necessidade absoluta da purificação interior.
Colóquio – «Ó Jesus, viestes oferecer-Vos no templo, e quem Vos ofereceu? Ofereceu-Vos a Virgem Maria, aquela que não teve nem terá outra semelhante a si. Ofereceu-Vos Maria, que, pela boca do sábio, o Vosso Pai proclamou toda bela e formosa… A quem Vos ofereceu? Ofereceu-Vos a Deus, substância infinita, excelso na Sua criação, fecundo na herança, sublime e insondável nos Seus desígnios, gracioso e suave no amor. E o que ofereceu? Ofereceu-Vos a Vós, Verbo eterno, substância da Essência divina, Filho do Altíssimo, legislador do universo. A Vós que, com tantos e tão formosos e excelsos nomes, fostes chamado: ó Chave de Davi, ó Rei das Gentes, ó Emanuel.
E que me ensinais, Senhor, ao oferecerdes-Vos no templo? Ensinais-me reverência para com a lei, porque quisestes cumpri-la; ensinais-me adoração, porque Vos oferecestes ao Pai, não como igual a Ele, embora verdadeiramente o sejais, mas como homem. Sim, ensinais-me a reverência que devo ter para com a Vossa lei; e não só são leis Vossas os dez mandamentos, mas também a Regra e as Constituições. Esta Vossa lei é para mim suave e doce; sou eu que a torno amarga quando não me nego a mim mesma, porque então, em vez de a levar suavemente, a lei é obrigada a levar-me a mim» (cfr. Sta. Maria Madalena de Pazzi).
Ó Jesus, pelas mãos de Maria, quero oferecer-me hoje juntamente convosco ao eterno Pai. Mas Vós sois a Hóstia puríssima, santa, imaculada, ao passo que eu estou cheio de manchas, de miséria, de pecados.
Ó Maria, minha Mãe, a vós que, apesar de estardes isenta de toda a sombra de imperfeição, quisestes ser purificada, peço-vos que purifiqueis a minha pobre alma, para que seja menos indigna de ser oferecida ao Pai em união com o Seu e vosso Jesus. Ó Virgem puríssima, encaminhai-me vós mesma, para que a minha pusilanimidade não desfaleça perante a aspereza do caminho.
Referências:
1. MADALENA, Pe. Gabriel de Santa Maria. Intimidade Divina. 2ª edição, traduzida da 12ª edição italiana. Porto, Portugal: Edições Carmelitanas, [196-?], p. 1437-1440.