NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO: PADROEIRA DA CIDADE DE MONTES CLAROS – MG

Neste dia de solenidade tão especial, em que a Igreja comemora a Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria, veremos, num belo artigo, a relação desta data comemorativa com a história de nossa cidade, Montes Claros-MG.
Tempo Estimado de Leitura: 10 minutos

NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO: PADROEIRA DA CIDADE DE MONTES CLAROS – MG

Neste dia de solenidade tão especial, em que a Igreja comemora a Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria, veremos, num belo artigo, a relação desta data comemorativa com a história de nossa cidade, Montes Claros-MG.
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Em Montes Claros, Minas Gerais, existem duas leis aprovadas pela Câmara Municipal que declaram o dia 8 de dezembro como feriado religioso. Essa data está vinculada às raízes históricas da cidade, pois deriva da fé Católica dos primeiros moradores de origem portuguesa.

Remonta aos primeiros Cristãos o ensinamento que a Virgem Maria nasceu sem o pecado original desde sua concepção, ou seja, foi preservada por Deus e é cheia de graça. Com isso diversos teólogos e estudiosos enunciaram a pureza Mariana. Como exemplo, temos referência em Santo Ambrósio que disse:

Venha, então, e procure suas ovelhas, não por meio de seus servos ou mercenários, mas faça você mesmo. Levante-me corporalmente e na carne, que caiu em Adão. Levante-me não de Sara, mas de Maria, uma virgem não apenas imaculada, mas uma virgem a quem a graça tornou inviolável, livre de toda mancha de pecado” (Comentário sobre o Salmo 118: 22–30 [387 DC]).

Ao longo de todo o período medieval a Virgem Maria foi lembrada por diversos meios. Especificamente em Portugal a devoção popular a Nossa Senhora da Conceição está vinculada à formação da nação lusitana. O primeiro Rei de Portugal, Dom Afonso Henriques (antepassado direto do Alferes José Lopes de Carvalho, de quem falaremos a seguir), após ter realizado intensa batalha em Lisboa contra os mouros, celebrou missa em honra da Imaculada Conceição em 1147, estando acompanhado dos Templários, que eram devotos fidelíssimos de Nossa Senhora. Diversas vitórias em batalhas posteriores foram atribuídas ás graças da Virgem.

Ainda na idade média, quando a Igreja Católica criou as primeiras Universidades, surgiram fortes debates teológicos sobre a Imaculada Conceição.O Beato Duns Scotus (século XIV), franciscano escocês, trouxe os fundamentos doutrinários que foram prevalecentes nos meios universitários e dos estudiosos.

Com o decreto de 28 de fevereiro de 1476, o Papa Sisto IV adotou a festa da Imaculada Conceição para toda a Igreja Latina, concedendo indulgência a todos que ajudassem nos Ofícios Divinos da solenidade. E ainda, em 1497, a Universidade de Paris decretou que não deveria ser admitido membro na universidade que fosse contra a Imaculada Conceição de Maria. Posteriormente, diversas universidades seguiram esse mesmo preceito, incluindo a Universidade de Coimbra, em Portugal.

Em 1646, durante a Restauração da Independência de Portugal, com diversas batalhas contra a Espanha, Dom João IV, então Duque de Bragança, jurou que Nossa Senhora da Conceição seria a Rainha e Padroeira de Portugal e de todos os seus territórios ultramarinos (incluindo aqui o Brasil). Após a proclamação como Rei, Dom João IV laureou a imagem de Nossa Senhora da Conceição e desde então os reis subsequentes nunca mais colocaram a coroa real na sua cabeça, em lembrança de que a Rainha seria Nossa Senhora da Conceição.

Em 1654, o rei Dom João IV determinou que o Governador-Geral do Brasil, Dom Jerônimo de Ataíde, fundisse uma placa de bronze, com cerca de 1,30 metros de largura por 0,70 metro de altura, e afixasse em local público da capital, contendo o seguinte texto originalmente escrito em Latim, e traduzido em Português:

(Dom João IV consagrou Portugal à Santíssima Virgem, Santuário de Vila Viçosa – Quadro da Consagração, em azulejos)

Inscrição destinada à eternidade. A Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria. Dom João IV, Rei de Portugal, juntamente com as Cortes dos Estados do Reino, em ato público obrigou-se por voto solene a si e aos seus reinos tributários a um tributo anual, e prometeu um juramento perpétuo que ele havia de defender a Mãe de Deus, concebida sem pecado original e tomada por padroeira e Protetora do seu Reino. E para perpetuar essa piedade de Portugal, mandou esculpir esse preito e juramento e lâmina de bronze, para memória perene no ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1646, 6ª de seu Império”.

Assim, a devoção a Nossa Senhora da Conceição chegou ao Brasil com a fé vinda de Portugal atrelada a realeza. Por isso, atualmente muitas cidades declaram feriado ou data comemorativa em honra à Virgem. O Brasil foi consagrado a Nossa Senhora da Conceição ainda no tempo dos reis e ainda permanece, agora com o acréscimo de Aparecida, pois em 1717, foi encontrada no Rio Parnaíba uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, que originou a devoção da Nossa Senhora da Conceição Aparecida, que é nome adjetivado para a mesma padroeira.

Nesse contexto de restauração da independência de Portugal, em 17 de junho 1665 ocorreu a Batalha de Montes Claros, que foi decisiva para o retorno do rei e foi muito festejada tanto em Portugal quanto no Brasil. Ao receber a sesmaria em 12 de abril de 1707, uma vastidão de terras no norte de Minas, o Capitão Antônio Gonçalves Figueira, vindo de São Paulo, deu nome a sua fazenda de Montes Claros, que dá o nome da cidade atual.

Embora já existisse desde a origem, em Montes Claros a devoção à Nossa Senhora da Conceição se tornou intensa com a chegada do Alferes José Lopes de Carvalho, descendente de Dom Afonso Henriques, vindo de Vilar da Veiga, Braga, norte de Portugal. Sua devoção â Santíssima Virgem iniciou já no berço familiar, pois foi batizado no dia de Nossa Senhora do Carmo em 16 de julho de 1721. Dentro da fé intensa portuguesa, seus familiares foram padres ou militares, e por isso decidiram vir ao Brasil à serviço da coroa portuguesa. Após o falecimento repentino de sua esposa, o Alferes José Lopes optou por uma vida celibatária, tendo ingressado em 6 de abril de 1763, na então recém criada Ordem Terceira de São Francisco do Tijuco (atual cidade de Diamantina). Essa ordem secular era formada por homens de grande poder aquisitivo em Minas Gerais e foi responsável pela construção da Igreja de São Francisco de Assis em Diamantina. Dentro dessa antiga Igreja pode ser vista atualmente a bela imagem de Nossa Senhora da Conceição, que é padroeira dessa ordem.

Ao vir para a região mais ao norte de Minas, o Alferes adquiriu a Fazenda Montes Claros, em 27 de setembro de 1768.  No ano seguinte recebeu autorização da Igreja para erigir uma capela em honra a Nossa Senhora da Conceição e São José, tendo então conseguido o direito de ser enterrado junto ao altar-mor, o que aconteceu em 30 de abril 1781. Assim, o velho Alferes, junto com seus familiares, permanecem enterrados junto ao altar-mor da Igreja Matriz.

A fazenda Montes Claros passou a ser administrada por João Lopes da Silva, sobrinho do Alferes José Lopes, do qual descende alguns montesclarenses que ainda permanecem devotos de Nossa Senhora da Conceição. Em volta da então capela as pessoas foram construindo casas e formou-se o povoado conhecido como Arraial de Formigas. Anos depois, já com uma população expressiva, foi fundada a paróquia em 14 de julho de 1832, que agora é a atual Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição e São José.

Ao longo do século XIX, os eventos mais relevantes, tanto políticos quanto religiosos, eram organizados no campo aberto em frente à Igreja Matriz. E a devoção do povo de Montes Claros permanecia com missas diárias nessa Igreja (e ainda permanece).

Em 8 de Dezembro de 1854, perante uma multidão de mais de cinquenta mil pessoas vindas de todas as partes do mundo, o Papa Pio IX definia e proclamava, pela bula Ineffabilis Deus, o dogma da Imaculada Conceição: “A doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante da sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original, essa doutrina foi revelada por Deus, e por isto deve ser crida firme e inviolavelmente por todos os fiéis“.

Após o golpe militar republicano em 15 de novembro, que removeu a monarquia do Brasil, ocorreram instabilidades econômicas e políticas para a manutenção da estrutura da Igreja. Assim, em agosto de 1890, religiosos e leigos se uniram para formar a Associação Católica de Nossa Senhora e São José de Montes Claros que tinha como objetivo, conforme seu estatuto: “Manter na Freguesia de N. Senhora e S. José de Montes Claros o culto da Igreja Católica Apostólica Romana em todas as suas manifestações, despertando e animando entre os fieis o espírito religioso.”. Essa associação exerceu papel relevante na manutenção da Igreja na região e buscava reivindicar melhorias.

E assim, com a finalidade de melhor administrar a Igreja no norte de Minas Gerais, em 10 de dezembro de 1910 pela bula Postulat Sane do papa São Pio X foi criada a Diocese de Montes Claros, sendo desmembrada da Arquidiocese de Diamantina.

Com isso a Igreja se consolidou na região e iniciou diversas obras de caridade e expansão da fé. Foi erguida a Catedral em honra a Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Ainda, no mesmo ano que se iniciava a construção da catedral, em 7 de março de 1927 chegou em Montes Claros uma nova escola com o nome de “Colégio Imaculada Conceição”, considerado referência no ensino católico.

As festividades religiosas continuaram a prosperar na cidade. O dia 8 de dezembro, conforme lei municipal de 28 de novembro de 1958, proposta, e depois de aprovada pela câmara, também sancionada pelo prefeito Alfeu Gonçalves de Quadros, é data considerada “feriado religioso municipal, consagrado á Imaculada Conceição, Padroeira da Paróquia da Matriz e da diocese de Montes Claros“.

Em 1963, mais uma vez, o povo de Montes Claros prestou homenagem a Nossa Senhora da Conceição. Na frente da Igreja Matriz há uma escultura de Nossa Senhora da Conceição e logo abaixo dela uma placa com o escrito “Montes Claros aos pés de Maria” e a frase em latim “Montra te esse matrem“, que carrega um significado impar. Esse é um trecho do hino “Ave Maris Stella”. Segundo conta-se, São Bernardo de Claraval estava cantando e, quando ao pronunciar a quarta estrofe dizendo “Monstra te esse matrem” (Mostrai que sois mãe), e estando aos pés da imagem de Nossa Senhora, a imagem ganhou vida e respondeu: “Mostra que és filho!”. Demonstrando que o amor materno alcança aqueles que se declaram seus filhos.

Em 29 de março de 2006, foi aprovado o projeto que se tornou a Lei municipal nº 3.542 de 12 de abril de 2006, que institui a data de “08 de dezembro como o Dia Municipal da Padroeira de Montes Claros, Nossa Senhora Imaculada Conceição“. E coloca como facultativo ao poder executivo a decretação de feriado municipal nessa data.

Recentemente, por meio da Lei municipal de 23 de dezembro de 2021, o Centro Municipal de Educação Infantil, localizado no bairro Santos Reis em Montes Claros, passou a denominar-se oficialmente “CEMEI Nossa Senhora da Conceição”.

Por todo o exposto, a fé em Nossa Senhora da Conceição está nas raízes da história de Portugal e do Brasil, e também na cidade de Montes Claros, devendo a data ser lembrada por todos aqueles que prestam a devida homenagem à nossa mãe imaculada, concebida sem pecado.

At. EDUARDO O. FERREIRA, advogado, mestrando em História Social pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, sobrinho-octaneto do Alferes José Lopes de Carvalho, devoto de Nossa Senhora da Conceição.

BIBLIOGRAFIA:

Portugal, Arquivo de Braga, Registro Civil, Concelho de Bouro, Freguesia Vilar da Veiga, Anos 1708-1748, livro nº 2.

ROCHA, José Joaquim da. Geografia histórica da Capitania de Minas Gerais. p. 142/143. MAPAS das quatro comarcas, elaborados por José Joaquim da Rocha (1780).

MIRANDA, Selma M. A Igreja de São Francisco de Assis em Diamantina. Brasília: IPHAN/Programa Monumenta, 2009.

MENDONÇA, Nívea Maria Leite. “As Ordens Terceiras do Carmo na Capitania de Minas Gerais nos séculos XVIII e XIX” In. Revista Faces de Clio, Vol. 5, nº 10, Jul/Dez. 2019

REZENDE, Leandro Gonçalves de. O Monte Carmelo nas Montanhas de Minas: Arte, Iconografia e Devoção nas Ordens Terceiras de Minas Gerais (séculos XVIII e XIX). 2016. 188f. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), 2016

SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais, trad. de Vivaldi Moreira. Belo Horizonte. Editora Itatiaia ltda, 2000.

VIANNA, Urbino de Sousa. Montes Claros: Breves Apontamentos Historicos, Geographicos e Descriptivos. Imprensa Official do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, 1916.

PAULA, Hermes de. De Padre Chaves a Padre Dudu. Littera Maciel Ltda, Belo Horizonte-MG, 1982.

FERREIRA, Eduardo O. As origens do Alferes José Lopes de Carvalho, o fundador de Montes Claros. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, Montes Claros, Millenium, 2023.

Nota da Edição do Site: A opinião dos articulistas não reflete necessariamente a posição da Sociedade da Santíssima Virgem Maria.

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