Muitas histórias maravilhosas temos a contar sobre o grande Santo Antônio de Lisboa: suas virtudes, seus sermões e amor ao Evangelho, seus combates para a conversão de hereges e seus feitos extraordinários no cotidiano enquanto vivo nesta terra. E mais ainda do Céu, após a sua morte. Não é por acaso que o grande taumaturgo foi chamado pelo Papa Leão XIII como o “Santo do Mundo todo”, quando nos mais remotos lugares do planeta veremos capelas e cidades dedicadas a ele.

Neste dia de sua festa, narraremos um fato pouco conhecido aqui no Brasil: o seu encontro com o tirano Ezelino III e posterior libertação da cidade de Pádua, após a morte do Santo.

Ezelino da Romano III (1194 – 1259) era um nobre feudal italiano, aliado próximo do imperador Frederico II e governou subjugando localidades como Verona, Vicenz e Pádua por duas décadas. Ele era cruel e violento, reconhecido como um dos “primeiros infames”. Até foi colocado como um dos tiranos sanguinários que sofrem torturas infernais no Inferno de Dante(1), pelos métodos de crueldade de seu exército, estando sob anátemas de Papas da época (Gregório IX, Inocêncio IV e Alexandre IV).

O tirano vivia em Verona, quase despovoada, sob a vigilância de seus guardas violentos. Quando Santo Antônio toma conhecimento de um massacre de homens perpetrado próximo àquela cidade, deseja encontrá-lo; e isso um pouco antes de morrer (1231).

O santo entrou no palácio onde residia Ezelino e foi conduzido para a sala de audiências para falar com o sanguinário, sentado em seu trono e rodeado por suas tropas. Santo Antônio, intrépido, imediatamente lhe exortou:

“Ó inimigo de Deus, tirano implacável, cão raivoso, até quando continuarás a derramar o sangue inocente dos cristãos? Eis que a sentença do Senhor paira sobre a tua cabeça, terrível e duríssima!”

Esperava-se que Ezelino desse o mínimo sinal aos seus guardas para liquidar o santo, como tigres ferozes a desmembrar uma presa. Mas não! Surpreendentemente Ezelino, pálido e trêmulo, cai aos pés de Santo Antônio, e aos prantos pede ao santo que intercedesse pelo perdão de seu pecados.
Em seguida, manda os guardas retirá-lo, sem violência, e diz aos mesmos:

“Companheiros soldados, não se surpreendam com isso. Digo-lhes com toda a verdade que vi emanar do rosto deste padre uma espécie de brilho divino, que me aterrorizou a tal ponto que, diante de uma visão tão assustadora, tive a sensação de cair imediatamente no inferno.”

Pouco tempo depois, o tirano, para testar o santo, envia-lhe um presente muito caro e orienta aos portadores que: se Santo Antônio aceitasse, devesse ser morto imediatamente. Se não, que fossem embora. Santo Antônio recusou e pediu-lhes que regressassem ao seu chefe suplicando que devesse dar aquilo aos pobres a que ele havia devastado; e que devesse fazer reparação antes que fosse tarde demais. Ao receber a resposta de seus cabisbaixos sequazes, Ezelino, pensativo, diz: “Tudo bem. Esse é um homem de Deus”.

A obstinação do tirano e a libertação da cidade de Pádua (2)

Embora o emblemático encontro com o santo, aparentemente não consta que o tirano tenha se convertido, infelizmente. Fato é que após a morte de Santo Antônio, Ezelino já estava governando as principais cidades do Vêneto: Verona, Vicenza, Treviso, Feltre, Belluno e Pádua, ainda impondo sua autoridade com grande violência.

Em 1254, quatro anos após a morte do Imperador Frederico II, Ezelino foi excomungado pelo Papa Inocêncio IV, que também lançou uma campanha militar contra aquele, uma espécie de cruzada. Esse fato da campanha militar pelo papa é incerto, mas realmente a cidade de Pádua foi então sitiada para libertá-la do domínio de Ezelino. E, o discípulo de Santo Antônio, frei Beato Luca Belludi (1200 – 1286), cuja família havia sido morta pelo tirano, pede com fervorosas orações a ajuda do Santo. Na revolta de Pádua, registra-se que Ezelino mandou matar 12 mil homens.

Santo Antônio aparece a dois frades franciscanos (um deles provavelmente é o Beato Luca), prevendo a iminente libertação de Pádua do domínio do tirano Ezelino da Romano, o que de fato aconteceu em 1256. Finalmente, os paduanos foram libertos. Suas orações foram ouvidas por meio da intercessão de Santo Antônio. Ezelino morreu três anos depois enquanto tentava, sem sucesso, tomar conta da cidade de Milão.

A lição que podemos tirar nesta história é que Deus, em sua bondade e através de seus santos, providentemente, dá oportunidades de conversão mesmo aos piores pecadores. Infelizes os que deixam a oportunidade passar e bem-aventurados aqueles que correspondem à Graça.

Santo Antônio de Pádua, rogai por nós!
Maria Sempre!

Notas

(1) – Primeira parte da obra “A Divina Comédia”, é um poema épico da literatura italiana e mundial escrito por Dante Alighieri no século XIV.

(2) – Informações traduzidas e adaptadas do vídeo “A Libertação de Pádua” (vídeo-meditação) feito por ocasião da Tredicina 2017 – dia 12, Domingo 11 de Junho de 2017.

Referências:

Artigo “Santo Antônio, provavelmente o santo mais popular do Mundo”, disponível em: https://www.dn.pt/arquivo/diario-de-noticias/santo-antonio-provavelmente-o-santo-mais-popular-do-mundo-10991763.html

Biografia de Ezzelino III da Romano, disponível emhttps://en.wikipedia.org/wiki/Ezzelino_III_da_Romano

Texto “A libertação de Pádua”, disponível em https://www.santantonio.org/it/content/tredicina-2017-la-liberazione-di-padova

Livro (inglês) Saint Anthony – The Wonder-Worke of Pádua, by Charles Warren Stoddart, trecho narrado em St. Anthony of Padua – “The Hammer of Heretics” pelo canal The Catholic Men’s – Podcast.

Breve biografia do Bem-aventurado Luca Belludi, disponível em https://franciscanos.org.br/carisma/calendario/lucas-belludi#gsc.tab=0

Relato em vídeo “I miracoli di sant’Antonio – La liberazione di Padova”; pelo canal Messaggero di sant’Antonio.