Vivendo a Humildade

Um texto definitivo e prático para o exercício da virtude da humildade, fundamento da vida espiritual.
Tempo Estimado de Leitura: 5 minutos

Vivendo a Humildade

Um texto definitivo e prático para o exercício da virtude da humildade, fundamento da vida espiritual.
Tempo Estimado de Leitura: 5 minutos

É a humildade uma virtude que nos dispõe ao desprezo de nós mesmos e à aceitação do desprezo alheio.

Inspira-se simultaneamente nas luzes da fé e da razão para nos conservar adentro da ordem no que respeita à estima pessoal e à estima dos estranhos. Exerce, portanto, a sua ação sobre a inteligência para a compenetrar intimamente do conhecimento do nosso valor real; baseia-se na consideração da nossa impotência natural e sobrenatural e na convicção do nosso nada… e na das nossas faltas e misérias morais, o conhecimento bem sentido da nossa abjeção. Atua em seguida sobre a vontade para a regulamentar em face desses dados; leva-a a consentir mais ou menos generosamente no desprezo de si e a aceitar pacificamente, a desejar e amar o desprezo de outrem. Portanto:

1 – para ser completa no sentido cristão, deve a humildade não somente preservar-nos das desordens do orgulho, tais como o apreço exagerado de nós e a ânsia febril e fraudulenta da estima dos outros, mas além disso criar em nós esse desprezo próprio e a aceitação espontânea do desprezo alheio.

2 – Para ser verdadeira e autêntica, não deve inspirar-se por tal modo no próprio desprezo, que despenhe o interior num estado de depressão a confinar com o desespero, ou num estado de pusilanimidade que comprima toda a iniciativa e todo o ardor para santos empreendimentos; por outro lado, não ignore a alma humilde o bem real de que é dotada, a fim de não descurar, nem esquecer o reconhecimento para com Deus, que o liberalizou.

Corolário. Podemos distinguir:

1 – a humildade interior, que consiste em sentir verdadeiramente o desprezo de si, e a humildade exterior, que é a mesma humildade interior manifestada e traduzida por atos;

2 – a humildade intelectiva, que se cultiva com reflexões graves, convictas e frequentes, sob a influência de luzes sobrenaturais, e a humildade da vontade, do coração, de inclinação, que se desenvolve pelo exercício e prática assídua de atos generosos, sob o influxo da graça.

Como formar as almas na humildade

Jesus lava os pés de Pedro, artista: Ford Madox Brown

1 – Persuadi-las da importância capital desta virtude. Para isso, recomende o seu estudo em livros de doutrina sã e sólida (por exemplo: Rodrigues, Formación Progressive de La Confession etc.); estimule, desenvolvendo alguns dos pensamentos que se seguem:

a) Ser humilde é ser justo:

I – por mim, não sou nada; que importa, portanto, que seja ignorado? os bens que possuo recebi-os de Deus, não os posso arrogar como próprios; “que motivo terá de se orgulhar quem é cinza e pó?” (Ecl 10, 9);

 II – Pelo pecado decaí do estado de verdadeira grandeza, fiquei reduzido a um estado de abjeção… sou, com efeito, digno de desprezo…, mais desprezível do que se cometesse a maior inépcia do mundo;

III – Não tenho autoridade para julgar o próximo e tenho obrigação de me julgar a mim; devo ter-me em menos conta do que os outros, segundo adverte São Paulo: “cada um pela humildade repute os outros acima de si.” (Fil 2, 3)

b) A humildade assemelha-nos a Jesus Cristo e aconchega-nos ao seu Coração: “aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração”. Jesus humilhou-se até tomar a forma de escravo, humilhou-se até à morte e morte ignominiosa de Cruz. A vida eucarística é o cúmulo do aniquilamento.

c) Proporciona vantagens preciosas:

I – “Onde estiver a humildade, está a sabedoria” (Prov 11, 2);

II – Trespassa as nuvens a oração do que se humilha;

III – “Aquele que se humilhar e se tornar como num destes pequeninos que creem em mim, esse será o maior no reino dos céus.” (Mat 18, 4);

IV – “O que se humilha será exaltado.” (Luc 14, 2). “Nada é comparável à humildade: é ela a mãe, a raiz, o apoio e o fundamento de todo o bem, o bem de todas as virtudes.” (S. João Crisóstomo)

2 – Exercitá-las na prática da humildade pelo exame particular sobre os seguintes pontos:

a) Repelir os pensamentos que lisonjeiam o amor próprio e a vaidade – e para reagir melhor, ler e lembrar a lista circunstanciada das minhas misérias;

b) Procurar, no exame de consciência e na confissão, o que particularmente me humilha e exprimir com jaculatórias o sentimento de quanto me abate;

c) Praticar atos externos de humildade: beijar o chão, servir-me, na intimidade, dos objetos mais desprezíveis, recordando a minha abjeção;

d) Não falar de mim, nem das minhas empresas, senão por verdadeira necessidade ou utilidade, e purificando primeiro a minha intenção. Os elogios que tributarem a mim, referi-los a Deus;

e) Não dar importância a encômios e ficar com a impressão de que, se me conhecessem bem, não me cercariam de honrarias;

f) Na exprobração e crítica que me façam, não atribuir ao ciúme a censura, mas reconhecer nela um fundamento de verdade;

g) Depois da humilhação, continuar benévolo e obsequioso com as pessoas que me feriram…, dizer bem delas, se o permite a prudência…, dirigir por elas uma prece, com a persuasão de que, de facto, me fizeram grande benefício, fossem quais fossem as suas intenções;

h) Fazer por encontrar de tempos em tempos as pessoas que me desdenham, para lhes testemunhar afeição e simpatia;

i) Ficar calmo e satisfeito na humilhação, exclamando: bendito seja Deus! – Interessar-me pelas pessoas de condição humilde e participar alguma vez do seu viver;

j) Excluir do meu uso objetos de luxo, que não comportam a minha condição;

k) Na sociedade, ofuscar-me quanto possível, deixando aos outros a honra e a direção da conversação. Não falar dos defeitos das pessoas que não agradam, não pensar neles, mas antes nas qualidades e virtudes;

l) Conviver com os iguais como se fossem superiores;

m) Não fazer coisa alguma, nem dizer, para atrair a atenção ou o louvor;

n) Conservando sempre a confiança e o respeito dos inferiores e mantendo toda a autoridade, considerar-me interiormente o ínfimo de todos, recordando que muitos deles serão no céu a mim superiores;

o) Honrar os pobres e os humildes. Pedir a Deus o amor das humilhações. Após uma consolação espiritual ou prova de estima que me testemunhem, fazer interiormente um ato de profunda humildade;

p) Procurar a união com Jesus tão humilde e tão humilhado no Tabernáculo.

Humildade, do latim humus (terra); em sentido figurado, qualidade daquele que se rebaixa.

Referência:

1.   PEREIRA, Pe. A. A.[1] A Arte da Direção das Almas. Braga, Portugal: Livraria Litúrgica Editora, 1925, p. 204 – 207.

Nota:

1.   A referência bibilográfica do presente artigo apresenta o Padre A. A. Pereira, de nacionalidade portuguesa, como autor. Convém, contudo, esclarecer que há informações na capa do livro e também na introdução que dão a entender que, na verdade, o autor seria outro, de origem francesa. Como não descobrimos qualquer informação desse suposto autor francês, optamos por deixar a informação de autoria presente na referência acima. Se algum leitor tiver conhecimento do provável autor francês que escreveu a obra “A Arte da Direção das Almas”, vertida para o português pelo Padre Pereira, pedimos a gentileza de informar a Edição deste Site por meio do endereço contato@ssvm.org.br ou no espaço de comentários.

Nota da Edição do Site: A opinião dos articulistas não reflete necessariamente a posição da Sociedade da Santíssima Virgem Maria.

Maria Sempre!

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