Henriette Hauton, de Lisieux, fora uma criança frágil, um tanto enfermiça. E, com efeito, desde os 10 anos de idade começou a sofrer da terrível tuberculose.
Seus pais têm uma pequena pousada, e seu desespero é maior vendo que sua filhinha recusa quase que por completo todo alimento. E não adianta forçá-la, porque a menina sofre de vômitos gástricos sanguinolentos e de diarréias intestinais também sanguinolentas, além de hemoptise.
Vai definhando ano após ano. À idade de 20 anos, Henriette Hauton “oferece o espetáculo, dir-se-ia, de um verdadeiro esqueleto apergaminhado que se move.”
Os médicos que a atendem mantém-na viva, embora sem esperanças, só na base do soro e lavagens nutritivas. Parece incrível, mas os certificados médicos garantem repetidamente que, à idade de 20 anos, a Srta. Henriette Hauton pesa somente 17 quilos. Há cinco anos que não abandona o leito. Extrema caquexia.
A pobre jovem anseia por ser levada a Lourdes para solicitar o amparo da Virgem, mas seu estado caquético é tão impressionante, e consequentemente tão grave, que os organizadores tanto da Peregrinação de Lisieux como da Peregrinação Nacional recusam terminantemente inscrevê-la para o vagão branco, não querendo a responsabilidade legal de que morra no trem.
Por fim, consegue ser aceita na peregrinação de Bayeux. A Srta. Henriette Hauton, em estado mais que desesperado, conseguiu chegar até Lourdes no dia 08 de setembro de 1908. Nem precisa de padiola: Sua mãe literalmente a carrega nos braços… Para que morra no Santuário de Nossa Senhora de Lourdes. Alguns peregrinos pensam e comentam: “Para que tomar-se tanto trabalho e riscos vindo a pedir um milagre de cura numa velha já decrépita e octogenária?” Pela aparência ninguém pode suspeitar que só tem 20 anos!
E no mesmo dia da chegada, contra os vivos protestos temerosos da mãe, Henriette Hauton consegue que os padioleiros e enfermeiras voluntários de Lourdes a submerjam numa das piscinas. Ela acha, ninguém acredita, que ao contato da água gelada se sente melhor. Só.
Novo banho na manhã seguinte. Nada. Ela explicará depois – e é bem conhecido por muitos outros casos – que Deus está provando sua fé e constância.
Poucas horas depois está na fila dos doentes assistindo devotamente à procissão com o Santíssimo. Chega sua vez. O Bispo de Evreux com Jesus Sacramentado abençoa aquele “esqueleto” febril…
E Henriette Hauton levanta-se da sua padiola declarando-se curada. As enfermeiras treinadas obrigam-na, como é praxe em Lourdes, a ficar quieta e em silêncio para evitar todo assomo de histeria ou fanatismo.
Terminada a procissão, caminha por si mesma ao posto de constatações médicas. Os doutores que no dia anterior a haviam diagnosticado com tuberculose quase generalizada e evidente caquexia exigem uns dias de observações antes de se pronunciarem. Mas manifestamente todos estão desconcertados vendo mover-se com alguma firmeza diante deles um esqueleto sem músculos. O Dr. Boissarie, até pouco presidente do posto e conhecido por sua extrema prudência, não hesitou em declarar: “Isto é uma verdadeira ressurreição” (em Parapsicologia seria mais exato: revitalização).
Três semanas mais tarde, a Srta. Henriette Hauton continua com saúde perfeita e simplesmente duplicou seu peso.
Três meses mais tarde, continua completamente sadia e já pesa 50 quilos.
Volta a Lisieux. Algum tempo depois, seu pai, convertido perante o milagre da cura da filha, fará a primeira comunhão, primeira de uma longa série, passará a ser católico praticante.
Por sua parte, a Srta. Henriette Hauton volta dedicadamente aos seus estudos, os quais interrompera “definitivamente” 8 anos antes, consegue seu diploma, faz-se ama-seca, depois empregada num banco e ao mesmo tempo se dedicará a ajudar em diversos trabalhos paroquiais nas cidades de Lisieux, de Ry, de Seine-Maritime… Até 1957, quando Agnallet, parapsicólogo e historiador de Lourdes, publica estas linhas, já tendo Henriette Hauton, 70 anos.
Referências:
1. QUEVEDO, Pe. Oscar. Os Milagres e a Ciência. São Paulo – SP: Edições Loyola, 1998, p. 670 – 672.