DOM ATHANASIUS SCHNEIDER SOBRE OS TÍTULOS DE CO-REDENTORA E MEDIANEIRA DE TODAS AS GRAÇAS

Em meio ao alvoroço causado pela publicação da nota doutrinal Mater Populi Fidelis do cardeal Fernandéz, apresentamos uma série de argumentos sobre os títulos de Co-Redentora e Medianeira de todas as graças atribuídos a Maria Santíssima, expostos com muita sobriedade por Dom Athanasius Schneider, bispo auxiliar de Astana. Rezemos pela Igreja.
Tempo Estimado de Leitura: 6′

DOM ATHANASIUS SCHNEIDER SOBRE OS TÍTULOS DE CO-REDENTORA E MEDIANEIRA DE TODAS AS GRAÇAS

Em meio ao alvoroço causado pela publicação da nota doutrinal Mater Populi Fidelis do cardeal Fernandéz, apresentamos uma série de argumentos sobre os títulos de Co-Redentora e Medianeira de todas as graças atribuídos a Maria Santíssima, expostos com muita sobriedade por Dom Athanasius Schneider, bispo auxiliar de Astana. Rezemos pela Igreja.
Tempo Estimado de Leitura: 6′

Ao longo do tempo, o Magistério Ordinário, juntamente com numerosos Santos e Doutores da Igreja, ensinou as doutrinas marianas da Co-redenção e da Mediação, empregando, entre outras expressões, os títulos específicos de “Co-redentora” e “Medianeira de Todas as Graças”. Consequentemente, não se pode sustentar que o Magistério Ordinário, juntamente com Santos e Doutores da Igreja ao longo de tantos séculos, pudesse ter induzido os fiéis ao erro mediante um uso reiteradamente impróprio desses títulos marianos.

Além disso, ao longo dos séculos, essa doutrina mariana e o uso desses títulos exprimiram também o sensus fidei — o sentido da fé dos fiéis. Portanto, ao aderirem ao ensinamento tradicional do Magistério Ordinário relativo à Co-redenção e à Mediação, e ao reconhecerem a legitimidade dos títulos “Co-redentora” e “Medianeira de Todas as Graças”, os fiéis não se afastam do caminho recto da fé, nem de uma piedade sã e bem informada para com Cristo e Sua Mãe.

Na Igreja primitiva, S. Ireneu, Doutor do século II, lançou os fundamentos essenciais das doutrinas marianas da Co-redenção e da Mediação, que mais tarde seriam desenvolvidas por outros Doutores da Igreja e pelo Magistério Ordinário dos Romanos Pontífices. Ele escreveu: “Maria, ao prestar obediência, tornou-se causa de salvação, tanto para si mesma como para todo o género humano.” [1]

Entre as numerosas afirmações do Magistério Ordinário dos Papas acerca das doutrinas marianas da Co-redenção e da Mediação, e dos correspondentes títulos “Corredentora” e “Medianeira de Todas as Graças”, pode citar-se, em primeiro lugar, a encíclica Adjutricem Populi, de Leão XIII, na qual o Papa se refere à Nossa Senhora como cooperadora na obra da Redenção e dispensadora da graça que dela dimana. Ele escreve: “Aquela que esteve tão intimamente associada ao mistério da salvação humana está igualmente associada à distribuição das graças que, por todos os tempos, fluirão da Redenção.” [2]

De modo semelhante, na encíclica Jucunda Semper Expectatione, Leão XIII fala da mediação de Maria na ordem da graça e da salvação. O Papa escreve: “O recurso que temos a Maria na oração decorre do ofício que Ela continuamente desempenha junto do trono de Deus como Mediadora da graça divina; sendo, pelo seu merecimento e dignidade, a mais agradável a Ele, e, por conseguinte, superior em poder a todos os anjos e santos do Céu… S. Bernardino de Sena afirma: ‘Toda a graça concedida ao Homem tem três graus de ordem; pois, de Deus é comunicada a Cristo, de Cristo passa à Virgem, e da Virgem desce até nós’… Que Deus, ‘Que na Sua mais misericordiosa Providência nos deu esta Mediadora’ e ‘decretou que todo o bem nos chegasse pelas mãos de Maria’ (S. Bernardo), receba propício as nossas comuns preces e realize as nossas comuns esperanças… A Ti elevamos as nossas orações, pois és a Medianeira, poderosa e compassiva, da nossa salvação… pela Tua participação nas Suas inefáveis dores… sê compassiva, ouve-nos, ainda que indignos sejamos!” [3]

S. Pio X apresentou uma exposição teológica sintética da Co-redenção na encíclica Ad Diem Illum, ensinando que, em virtude da Sua maternidade divina, Maria merece pela caridade aquilo que Cristo, como Deus, merece por justiça estrita — a saber, a nossa redenção —, sendo também Ela a dispensadora de todas as graças. O Papa escreve: “Quando chegou a hora suprema do Filho, junto à Cruz de Jesus estava Maria, Sua Mãe, não apenas contemplando o cruel espectáculo, mas regozijando-se porque o Seu Filho Unigénito era oferecido pela salvação do género humano, e participando de tal forma na Sua Paixão, que, se fora possível, Ela teria suportado de boa vontade todos os tormentos que Seu Filho padeceu. E desta comunhão de vontade e sofrimento entre Cristo e Maria, Ela mereceu tornar-se dignissimamente a Reparadora do mundo perdido e a Dispensadora de todos os dons que o nosso Salvador nos adquiriu pela Sua Morte e pelo Seu Sangue… Pois Maria excede a todos em santidade e união com Jesus Cristo, e foi associada por Ele à obra da redenção; Ela merece para nós de congruo, na linguagem dos teólogos, aquilo que Jesus Cristo merece de condigno, sendo a suprema Ministra da distribuição das graças… Foi concedido à augusta Virgem ser a Mediadora e Advogada mais poderosa de todo o mundo junto de Seu Divino Filho. A fonte é, pois, Jesus Cristo. Mas Maria, como explica S. Bernardo, é o canal; ou, se preferirmos, a parte de união cuja função é ligar o corpo à cabeça e transmitir ao corpo as influências e determinações da cabeça — queremos dizer: o pescoço. Sim, diz S. Bernardino de Sena, ‘Ela é o pescoço da nossa Cabeça, por meio do qual Ele comunica ao Seu corpo místico todos os dons espirituais.’” [4]

De igual modo, Bento XV ensina: “Unindo-se à Paixão e morte do Seu Filho, sofreu até à morte… para aplacar a divina justiça; na medida em que Lhe foi possível, sacrificou o Seu Filho — de modo que se pode justamente afirmar que Ela, juntamente com Cristo, redimiu o género humano.” [5]
Este é o equivalente ao título de Co-redentora.

Pio XI afirma que, em virtude da Sua íntima associação à obra da Redenção, Maria merece com justiça o título de Corredentora. Ele escreve: “Por necessidade, o Redentor não podia deixar de associar a Sua Mãe à Sua obra. Por esta razão, invocamo-La sob o título de Co-redentora. Ela deu-nos o Salvador, acompanhou-O na obra da Redenção até à própria Cruz, partilhando com Ele as dores da agonia e da morte, nas quais Jesus consumou a Redenção do género humano.” [6]

Na encíclica Mediator Dei, Pio XII sublinha a universalidade do papel de Maria como dispensadora de graça, dizendo: “Ela dá-nos o Seu Filho e com Ele todo o auxílio de que necessitamos, pois Deus ‘quis que tudo recebêssemos por meio de Maria’ (S. Bernardo).” [7]

S. João Paulo II afirmou repetidas vezes a doutrina católica do papel de Maria na Redenção e na mediação de todas as graças, empregando os títulos ‘Co-redentora’ e ‘Medianeira de Todas as Graças’. Entre outras, disse: “Maria, embora concebida e nascida sem mancha de pecado, participou de modo admirável nos sofrimentos do Seu divino Filho para ser Co-redentora da Humanidade.” [8] “De facto, o papel de Maria como Co-redentora não cessou com a glorificação do Seu Filho.” [9] “Recordemos que a mediação de Maria se define essencialmente pela Sua maternidade divina. O reconhecimento do Seu papel de mediadora está, por conseguinte, implícito na expressão ‘nossa Mãe’, que apresenta a doutrina da mediação mariana acentuando a sua maternidade. Finalmente, o título ‘Mãe na ordem da graça’ explica que a Santíssima Virgem coopera com Cristo no renascimento espiritual da Humanidade.” [10]

Relativamente à verdade expressa pelo título mariano de Mediadora de Todas as Graças, Bento XVI ensinou: “A Tota Pulchra, a Virgem Puríssima, que concebeu no Seu seio o Redentor do género humano e foi preservada de toda a mancha do pecado original, deseja ser o selo definitivo do nosso encontro com Deus nosso Salvador. Não há fruto de graça na História da Salvação que não tenha, como instrumento necessário, a mediação da Nossa Senhora.” [11]

S. John Henry Newman, recentemente proclamado Doutor da Igreja por Sua Santidade Leão XIV, defendeu o título de Co-redentora perante um prelado anglicano que o recusara. Declarou: “Quando vos viram, com os Padres, chamá-La Mãe de Deus, Segunda Eva, Mãe de todos os viventes, Mãe da Vida, Estrela da Manhã, Novo Céu Místico, Ceptro da Ortodoxia, Mãe Imaculada de Santidade, e outros semelhantes, ter-vos-iam julgado mal compensados se apenas protestásseis contra o facto de Ela ser chamada Co-redentora.” [12]

O termo Co-redentora, que por si só denota uma simples cooperação na Redenção de Jesus Cristo, tem, há vários séculos, no vocabulário teológico e no ensinamento do Magistério Ordinário, o sentido específico de uma cooperação secundária e dependente. Consequentemente, o seu uso não apresenta dificuldade séria, desde que acompanhado de expressões clarificadoras que ressaltem o papel secundário e dependente de Maria nessa cooperação. [13]

Tendo presente o ensinamento acerca do significado e uso próprio dos títulos Co-redentora e Medianeira de Todas as Graças, tal como tem sido consistentemente apresentado pelo Magistério Ordinário e sustentado por numerosos Santos e Doutores da Igreja ao longo de largo período, não há risco sério em empregar esses títulos de modo apropriado. Com efeito, sublinham o papel da Mãe do Redentor, que, pelos méritos de Seu Filho, está “unida a Ele por vínculo estreito e indissolúvel” [14], e é, assim, também a Mãe de todos os redimidos. [15]

Em certas versões da oração Sub Tuum Praesidium, os fiéis têm invocado confiadamente Nossa Senhora ao longo dos séculos, chamando-a: “Domina nostra, Mediatrix nostra, Advocata nostra.”

E S. Efrém, o Sírio, Doutor do século IV, venerado pela Igreja como a “Harpa do Espírito Santo”, orou deste modo: “Minha Senhora, Mãe de Deus Santíssima e cheia de graça. Tu és a Esposa de Deus, por Quem fomos reconciliados. Depois da Trindade, Tu és a Senhora de todas as coisas; depois do Paráclito, Tu és outro consolador; e depois do Mediador, Tu és a Medianeira do Mundo inteiro, a salvação do universo. Depois de Deus, Tu és toda a nossa esperança. Eu Te saúdo, ó grande Medianeira da paz entre os homens e Deus, Mãe de Jesus nosso Senhor, que é o amor de todos os homens e de Deus, ao Qual sejam honra e bênção com o Pai e o Espírito Santo. Ámen.” [16]

D. Athanasius Schneider, Bispo Auxiliar de Astana

[1] Adv. Haer., III, 22, 4.[1]
[2] 5 de Setembro de 1895.
[3] 8 de Setembro de 1894.
[4] 2 de Fevereiro de 1904.
[5] Carta Apostólica Inter Sodalicia, 22 de Março de 1918.
[6] Discurso aos peregrinos em Vicenza, Itália, 30 de Novembro de 1933.
[7] 20 de Novembro de 1947.
[8] Audiência Geral de 8 de Setembro de 1982.
[9] Homilia na Missa no santuário mariano em Guayaquil, Equador, 31 de Janeiro de 1985.
[10] Audiência Geral de 1 de Outubro de 1997.
[11] Homilia na Santa Missa e Canonização de Frei António de Sant’Ana Galvão, OFM, 11 de Maio de 2007.
[12] Carta dirigida ao Rev. E. B. Pusey, D.D., por ocasião do seu Eirenicon. Algumas dificuldades sentidas pelos Anglicanos no ensinamento católico, Volume 2, Longmans, Green, e Co., Nova Iorque, 1900, p. 78.
[13] Cf. Dictionnaire de la Théologie catholique, IX, art. Marie, col. 2396.
[14] Concílio Vaticano II, Lumen Gentium, 53.
[15] Concílio Vaticano II, Lumen Gentium, 63.
[16] Oratio ad Deiparam, cf. S.P.N. Ephraem Syri Opera Omnia quae exstant… opera et studio Josephi Assemani, Romae 1746, tomus tertius, p. 528ff.


Fonte: https://senzapagare.blogspot.com/

Maria Sempre!

Compartilhe e ajude-nos a evangelizar:
Facebook
Twitter
WhatsApp
Facebook
Twitter
WhatsApp

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

dois + vinte =