Todos os tempos litúrgicos trazem anexados a eles graças próprias do mistério celebrado. Assim, é do proceder divino derramar graças de conversão e contrição na Quaresma, bem como graças de luz e esclarecimento em Pentecostes. O Natal, por sua vez, é um tempo em que Deus derrama superabundantemente graças de alegria e de paz nas almas. A alegria é, segundo Santo Tomás, o fruto de se saber amado, e é tal certeza que o Deus Menino quer imprimir nos nossos corações. Ele, que em nada precisava de nós, quis por um ato de vontade positiva que existíssemos, mostrando que nossa vida não é um acaso impensado ou um acidente de percurso imprevisto; Deus não obra por acaso, e ao nos amar, nos amou com dileção entre tantos outros que poderiam existir e nunca existirão. Daí que a tristeza é o esquecimento de que a bondade divina quis, de forma absolutamente livre, nos criar para nos cumular de bens, da verdadeira felicidade que é o próprio Deus, dado que é a definição do amor o querer o bem para o outro, e é da natureza do bem o comunicar-se a si mesmo.
Quando dizemos que o Menino Jesus nos amou nascendo por nós no Presépio, é por duas razões específicas que intentaremos explorar aqui. Em primeiro lugar, o Menino Jesus oferecia ao Pai incessantemente tudo o que fazia e sofria, para a sua maior glória e a salvação dos homens. Como a humanidade de Cristo é unida à divindade do Verbo, 2ª Pessoa da Trindade, somente o frio que o adorável Menino quis passar por nós já era suficiente para redimir um milhão de mundos, pois o menor mérito Dele era de valor infinito. Mas Deus é liberal em fazer o bem, e sua prodigalidade não se contenta em realizar o mínimo necessário. Compreende-se desse modo porque foi convenientíssimo e condigo de seu amor infinito superabundar em atos, fazendo por nós tudo o que poderia ter feito a fim de não esquecermos que Ele transbordou o cálice das provas de amor, pois é próprio do amor não saber calcular. Daí o frio, a pobreza, os meios exíguos e o desamparo em que nasceu o Salvador falam para nós como tantos testemunhos vivos, porquanto nesta terra a principal linguagem do amor é o sacrifício. Em segundo lugar, nosso bom Jesus, como um mendigo que busca a compaixão alheia revelando suas feridas, quis ganhar mais seguramente a caridade do nosso coração padecendo as penas sofridas na fria gruta do inverno de Belém, a fim de que nós pudéssemos assim responder amor com amor. Nenhum de nós seria capaz de pedir uma gota de sangue a alguém que dissesse nos amar como prova de seu amor, e sem dúvida tal pedido seria visto como uma insensatez; pois bem, Nosso Senhor adiantou-se a esse pedido e, numa loucura de amor, escolheu sofrer por nós todo o possível sem disso carecer absolutamente. Assim, aquele que veio lançar o fogo do amor sobre a terra quis sofrer o frio da terra a fim de que a terra fria do nosso coração, comovida, se incendiasse de amor para com Ele.
Vivemos em tempos em que a caridade se esfriou. Deus não quer que O amemos para o seu próprio bem, mas porque Ele sabe que nós só seremos felizes se O amarmos! Tudo nós Dele recebemos, e nada podemos lhe retribuir que não seja um dom recebido. Mas há um dom da bondade divina que, de certo modo, o próprio Deus não possui: a nossa vontade. Ele nos quis livres, visto que somente seres livres podem escolher amar. Pois bem, diante do espetáculo do amor de Deus que contemplamos na gruta e de suas inumeráveis mostras de amor, demos hoje ao Menino Jesus a chave da nossa vontade, pois como nos ensinam os santos, quem deu a sua vontade para Deus, deu tudo o que podia dar. Ele quer o nosso coração, e é esse oferecimento que devemos fazer por meio do Imaculado Coração de Maria.
Tomai, Menino Jesus, o meu pobre e miserável coração. Vós pareceis precisar dele para ser feliz, tamanha sua sede de ser amado por nós! Meu coração é tão pobre… porém é meu tudo, e eu quero que, de agora em diante, ele seja somente vosso.
Um feliz e santo Natal a todos amigos e benfeitores de nosso apostolado!
Maria Sempre!