Primeiramente faça exame de consciência, a começar da última confissão, e, depois, um ato de contrição, para se purificar das faltas cometidas; ofereça-se a Deus em perpétuo sacrifício de holocausto; ponha diante dos olhos do entendimento, ou do corpo, a Jesus Cristo crucificado, e n’Ele considere e reconsidere com repouso e afeto da alma.
Em primeiro lugar, considere a natureza divina do Verbo Eterno do Pai, unida à natureza humana, que por si não teria existência, se Deus não lha desse.
Considere o inefável amor e profunda humildade com que Deus se rebaixou tanto, fazendo ao Homem Deus, fazendo-se Deus Homem; e aquela magnificência e largueza com que Deus usou do seu poder, manifestando-se aos homens, fazendo-lhes participantes da sua glória, do seu poder e grandeza. E se isto causar admiração, como é costume, demore aqui um pouco; deve, depois, considerar uma altura tão baixa e uma baixeza tão alta. Olhe para a cabeça coroada de espinhos, e considere a rudeza e cegueira do nosso entendimento.
Pedir a Nosso Senhor que Ele nos abra os olhos da alma e nos ilumine o entendimento com a luz da fé, para que com humildade entendamos quem é Deus, e quem somos nós; e, com este humilde conhecimento, possamos guardar os seus mandamentos e conselhos, fazendo em tudo a sua Divina vontade.
Olhe para as mãos cravadas, considerando a largueza delas, seus benefícios, e a estreiteza das nossas.
Olhe para os pés cravados, considerando a diligência com que vêm ao nosso encontro, e a lentidão com que os procuramos. Olhe para o lado aberto, mostrando o seu coração e entranhável amor com que nos amou, querendo que ali seja o nosso ninho e refúgio, e por aquela porta entremos para a Arca, no tempo do dilúvio das nossas tentações e tribulações.
Como Ele quis que seu lado fosse aberto, peça-Lhe, em testemunho do amor que nos tinha, dê ordem para que se abra o nosso, e descubramos o nosso coração, e lhe manifestemos as nossas necessidades, e aproveitemos para Lhe pedir remédio e medicina para elas.
(Santa Teresa, Carta 8ª, n.os 6-7-8)
A respeito desta meditação, escreve D. João de Palafox, Bispo de Osma, o seguinte: “Dê-me licença o Santo Frei Pedro de Alcântara, e o seu altíssimo espírito, dê-me licença a eloquência cristã do Venerável Frei Luiz de Granada, admiração dos séculos, que, em nenhuma de suas obras, encontro coisa alguma que, na forma e substância, leve vantagem a este pedacinho do estilo de Santa Teresa.”
Referências:
1. SACRAMENTADO, Associação da Adoração Contínua a Jesus. A Paixão de Jesus Cristo. 3ª edição. Rio de Janeiro – RJ: Vozes, 1925, p. 34 – 35.